(DO SITE DA FUNDAÇÃO LAURO CAMPOS)
Milton Temer
A Operação Satiagraha já havia detectado. O delegado Protógenes já havia tornado público. Agora é o próprio jornalão do Rio, em bem fundada matéria de Liana Melo, quem confirma aos brasileiros que não adianta apenas se precaver contra o que antes se localizava nas falcatruas financeiras. Agora, temos um instrumento de atividade predatória muito mais perigoso, nas mãos do banqueiro Daniel Dantas e sua troupe - a apropriação, por meio da Global Mine Exploration (GME) de nada mais, nada menos do que 2,1 milhões de hectares do subsolo brasileiro, ao longo de 14 Estados da Federação.
Ou seja, a despeito de tudo o que já justificou aceitação de denúncia contra o referido "elemento" (não é assim que a "puliça" se refere aos pés-de-chinelo que metem no xilindró, às vezes sem culpa formada?), ele encontra espaços para se locupletar com as concessões que lhe são doadas e que propiciam a formação de um outro tipo de banco, no qual o capital estrangeiro vai encontrar a brecha para se apropriar do nosso ferro, do nosso manganês, do nosso ouro, do nosso, enfim, metal precioso ou estratégico, cujo alvará de exploração o banqueiro conseguiu obter no espaço entre as prisões pelos crimes financeiros que lhe são imputados.
Não pode, portanto, calar a pergunta: por que meios, esse sempre suspeito de estar cometendo alguma ação atentatória ao bem comum obtém tais privilegiadas concessões? Sim, porque para explorar o subsolo, a Constituição impõe a obtenção de licença do poder público, já que o proprietário do solo não é dono do que existe nas suas profundezas. E o referido "elemento" já tem em mãos, segundo a reportagem, 1381 autorizações do Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão operativo do Ministério de Minas e Energia, sob direção de um dos mais próximos acólitos de Sarney, o pianista Edson Lobão.
Minha tristeza é dupla.. A primeira, como cidadão. A segunda, por ver minha lembrança de juventude tisnada pelo episódio em pauta. 1381 era o número-identidade pelo qual respondia chamadas quando aluno do Colégio Militar. Mas, vida que segue, volto ao grão para colocar questões concretas.
Daniel Dantas pode estar amealhando tal poderio sobre nossas riquezas minerais sem que outras autoridades, além do trêfego e desqualificado Edson Lobão, tenham conhecimento? Uma operação de tal grandeza pode estar sendo concretizada à revelia das informações certamente arquivadas na Abin e encaminhadas ao Planalto, sem que isso inspire nenhuma preocupação à Presidência da República? Melhor dizendo, sem que isso inspire qualquer preocupação a Luiz Inácio Lula da Silva?
Se não estiver causando nenhuma preocupação, ninguém poderá impedir a óbvia conclusão: há algo mais do que aviões de carreira nos céus que propiciam tão sólida aliança entre Sarney e Lula. Os nomes e instâncias governamentais envolvidos nesses ramos de negócios do banqueiro Daniel Dantas comprovam que, a despeito do que se passa no âmbito da política parlamentar, alguma coisa de comum, e sólida, existe na relação entre os Presidentes da República e do Senado, sem o que não se explicaria tantas benesses ao suspeito indiciado, denunciado e já condenado banqueiro Daniel Dantas. Há, entre os três, algo em comum, soterrado por milhões de toneladas de solo brasileiro. Vale a pena a atenção de perto sobre o desdobramento das ações do predador.
Milton Temer é jornalista e presidente da Fundação Lauro Campos
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