terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Deu na Perereca

Grande Novidade
‘A Vale é Tucana’

A campanha do ex-governador Simão Jatene ao Palácio dos Despachos, em 2002, foi quase totalmente financiada por empresas que detinham incentivos fiscais do Governo do Estado.



A Vale sozinha foi responsável por 60% dos recursos financeiros que irrigaram a campanha de Jatene.



Aliás, Jatene foi, provavelmente, o candidato que mais recebeu dinheiro da Vale, em 2002, em todo o Brasil.



O financiamento da campanha de 2002 joga um pouco de luz sobre a nota do ex-governador Almir Gabriel, que prometeu deixar o PSDB devido à escolha de Jatene como candidato dos tucanos no ano que vem.



A nota foi ditada por Almir à repórter Rita Soares, do jornal Diário do Pará.



Nela, o ex-governador fala em “desvios dos princípios políticos e éticos” do PSDB.



E diz pressentir e lamentar, principalmente, “a rendição ao atual representante exibicionista do Bradesco na Companhia Vale do Rio Amargo, somada ao governo egocêntrico de São Paulo, “territorializando” a recolonização da gestão pública do Pará, dividido e agachado, no momento especialmente favorável para derrotar o petismo obeso e obtuso que pretensamente governa o Estado, hoje”.



É possível que a decisão de Almir tenha muito mais a ver com questões pessoais do que políticas: o rancor que passou a nutrir em relação ao ex-amigo Simão Jatene, a quem acusa de não ter se empenhado na campanha de 2006.



Mas, a referência à Vale, nessa nota, não é mero acaso.



Somada ao financiamento de campanha de Jatene, a nota de Almir indica a possibilidade de ligações perigosas entre um postulante ao Governo do Estado e uma empresa que explora a exaustão, com baixíssimo retorno social, algumas das principais riquezas paraenses.




Financiamento disfarçado




O dinheiro das empresas incentivadas, aí incluída a Vale, foi repassado à campanha de Jatene através de uma triangulação.



Segundo o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os R$ 2,604 milhões gastos na campanha de Jatene vieram quase que na totalidade do Comitê Financeiro Único do PSDB no Pará: 97%.



Somente uns R$ 66 mil, ou cerca de 3%, não vieram do comitê, mas, de doações de duas empresas: a Ymeris Rio Capim Caulim S/A e a Griffo Comunicação.



A surpresa é quando se verifica a proveniência dos recursos do Comitê Financeiro Único do PSDB, que totalizaram R$ 2.895.709,66



Desse montante, R$ 2.383.942,00, ou cerca de 80%, vieram de empresas incentivadas. Outros R$ 478 mil foram doados pela construtora OAS, que participou da execução do milionário projeto da Alça Viária e era ligada ao falecido senador Antonio Carlos Magalhães, do então PFL, hoje DEM.



Feitas as contas, apenas R$ 33.767,66 dos mais de R$ 2,895 milhões arrecadados pelo comitê vieram de pessoas físicas ou de empresas que não possuíam, aparentemente, ligações com o governo.



As doações das empresas ligadas à Vale somaram R$ 1,7 milhão – ou cerca de 60% da receita total do comitê.



Mas, quando se consideram apenas os R$ 2,383 milhões doados pelas empresas incentivadas, a contribuição da Vale alcança cerca de 80%.




Dinheiro para políticos de todas as cores.




As doações da Vale ao comitê financeiro do PSDB paraense vieram de quatro empresas do grupo: a Sibra – Eletrosiderúrgica Brasileira S/A, hoje Vale Manganês, com sede na Bahia; a Docenave – Navegação Vale do Rio Doce S/A; a Albras Alumínio Brasileiro S/A; e a Alunorte – Alumina do Norte do Brasil S/A.



A doação da Sibra ao comitê dos tucanos paraenses, no valor de R$ 500 mil, foi a quarta maior da empresa em todo o País.



À frente, ficaram apenas os R$ 700 mil que doou às campanhas de Luís Inácio Lula da Silva à Presidência da República e aos comitês do PSDB e do PPS, também para as eleições presidenciais.



No Pará, as doações da Sibra contemplaram quatro outros políticos paraenses, mas nenhuma teve as dimensões da contribuição aos tucanos.



O ex-governador Hildegardo Nunes, então candidato ao Governo do Estado pelo PTB, levou R$ 150 mil; a atual governadora Ana Júlia Carepa (PT), então candidata ao Senado, recebeu R$ 50 mil; Claudiomar Almeida, candidato a deputado estadual pelo PDT ganhou até mais: R$ 75 mil. E Sebastião Pereira da Silva (PSDB), que também concorria à Assembléia Legislativa, recebeu R$ 25 mil.



Já a Docenave doou R$ 500 mil ao comitê financeiro do PSDB do Pará – um valor inferior apenas aos R$ 600 mil destinados à campanha do também tucano Aécio Neves, que concorria ao governo de Minas Gerais.



No Pará, também foram contemplados com doações da Docenave Hildegardo Nunes (R$ 100 mil); Ana Júlia (R$ 50 mil); o deputado estadual Gabriel Guerreiro (R$ 50 mil); Sebastião Ferreira Neto, candidato a deputado estadual pelo PTB (R$ 30 mil) e Sebastião Pereira da Silva (R$ 25 mil).



Já a Albras e a Alunorte só realizaram doações, naquele ano, para o PSDB paraense.



A Albras contribuiu com R$ 490 mil; a Alunorte, com R$ 210 mil.




Incentivos fiscais




Além do grupo Vale, outras sete empresas incentivadas doaram dinheiro à campanha de Jatene, através do comitê financeiro único do PSDB: a Refrigerantes da Amazônia S/A, do grupo Simões (que possui, no Pará, a Compar, Belágua e Paragás); a Sococo, a Bertin, a Agropalma, a Verbras, a Tapon Corona e a Jari Celulose.



As maiores doações foram da Bertin, da Refrigerantes da Amazônia e da Agropalma, cada uma com R$ 200 mil.



Na campanha de 2006, tanto Almir quanto Ana Júlia também receberam doações de empresas incentivadas, mas, em proporções muito inferiores ao que aconteceu com Jatene.



Além disso, nem Ana, nem Almir – pelo menos aparentemente – levaram sequer um tostão da poderosa Vale.

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