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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
entrevista - protógenes queiroz Protógenes Queiroz :"Ele (Daniel Dantas) comprava jornalistas, editorial de jornal, comprava tudo"
Direto do Acerto de Contas
No começo um pouco desconfiado comigo, ao longo da conversa o Delegado Protógenes Queiroz foi se soltando, e contando fatos da operação que o tornou o Policial mais conhecido do país.
Protógenes está em Recife a convite de uma série de entidades, para uma palestra hoje à noite na OAB. Está percorrendo o país, quase sempre com integrantes do PSOL, que de certa forma “adotaram” o delegado, que se tornou símbolo no combate à corrupção no país.
Almocei com o delegado logo após sua chegada, e conversamos sobre diversos assuntos, mas em especial sua caça a Daniel Dantas, a quem chama de “banqueiro-bandido”.
Durante o almoço dois fatos extra-entrevista chamaram a atenção. Protógenes pediu para mudarmos de local, desconfiado de que estava sendo monitorado por uma pessoa na mesa de trás (o que é bem provável), e depois um delegado de Pernambuco veio até a mesa para parabenizá-lo, e dizer que ele é um orgulho para os jovens delegados.
A entrevista foi acompanhada por 3 membros do PSOL, dentre eles Edilson Silva, a quem agradeço a oportunidade.
Você já liderou investigações e várias prisões com pessoas conhecidas, não é verdade? Mas essa Operação foi a que mais marcou sua carreira.
Sim, teve Paulo Maluf, Law Kim Chow, Armando Melão, Boris Berezovsky. Mas essa foi a de maior exposição, inclusive do próprio órgão (Polícia Federal).
Mas esta exposição teve o objetivo de criar um grande constrangimento para mim, mas isso saiu em sentido contrário, pois criou o debate público, e eu saí fortalecido, porque a população passou a conhecer quem era o Protógenes, que tinha quase 10 anos de Polícia Federal, e que ninguém conhecia. E aí eu fui instado a dialogar com a sociedade sobre este trabalho. Então sou obrigado a dialogar. Mudou minha rotina, porque eu era uma pessoa comum, anônima, e passei a ser uma figura pública. Neste aspecto eu achei muito positivo.
O que chamou a atenção nisso tudo foi a prisão do Dório Ferman, que até então era tido como uma pessoa séria no mercado?
Dório Ferman é apenas um testa de ferro. O dono do conglomerado, de todos os negócios, é o Daniel Dantas. Ele não sabe nem do que é dono, pois é um emaranhado de negócios. No próprio depoimento da justiça, ele mesmo confirma que não sabe o tamanho das empresas, de quantas pessoas. Eu o indiciei por gestão fraudulenta.
Daniel Dantas, aparentemente tem uma bancada no Congresso…
Aparentemente não, basta pegar a relação de jornalistas e deputados que falavam a favor antes, durante e depois do episódio, que saíram em defesa de Dantas e contra a operação.
Teve um momento crucial da investigação, que foi quando você saiu do caso. Você saiu por que quis, ou foi afastado?
Eu não saí, eu fui afastado. Existe uma gravação que comprova isso. Algumas pessoas que não vou nominá-las, pessoas importantes do cenário político, que disseram que eu menti para a população. Eu apenas não me pronunciei. Um dia essas informações vão vir a público. Daqui 1 ano, 2 anos e a sociedade vai conhecer a verdade.
Eu fui afastado por deliberação da direção. E essas pessoas que disseram que eu menti deveriam vir a público pedir desculpas à população. Lógico que eu queria permanecer, lógico que eu queria ficar no trabalho até o final, porque só cumpri a primeira parte, e mesmo assim com toda dificuldade que me impuseram, e mesmo assim eu concluí com êxito.
O Presidente da República inclusive foi enganado. Disseram a ele que eu me afastei. Eu não confio hoje na direção da Polícia.
E por isso buscou ajuda na ABIN?
Busquei, mas busquei dentro da Lei. A direção sabia disso, nós temos que comunicar isso, no dia a dia da instituição. E hoje digo isso abertamente, buscaria o triplo da ajuda da ABIN no caso.
Você acha que Daniel Dantas vai parar na cadeia, porque ele foi indiciado em uma série de delitos?
Você que é especialista em finanças, sabe que ele praticou quase toda a lista de crimes contra o Sistema Financeiro. Pelo menos os principais ele praticou, mas resta uma decisão imparcial, competente, do Poder Judiciário, acredito que vai acontecer, pois acredito na Justiça do meu país. Agora, para ter uma consequência maior, que a sociedade espera deste caso, à altura do prejuízo que causou à população e ao país, que realmente vá para a cadeia.
Há quanto tempo ele é investigado?
Quatro anos.
Apenas na Operação Satiagraha?
Não, ele também foi investigado na Operação Chacal. Mas não foi comigo essa operação. Foi o famoso caso da Kroll.
Você esperava que ele fosse sair tão rápido da cadeia? Que ele conseguiria um habeas-corpus tão rápido no STF?
Não, não esperava. Até porque foi uma decisão inédita no sistema processual brasileiro, que surpreendeu muita gente, mas, é uma decisão do Supremo, e tem que ser respeitada.
E qual a relação entre Dantas e a imprensa?
No inquérito tem um capítulo sobre a mídia. Citei os jornalistas, os órgãos de imprensa.
Está em segredo de justiça?
Está, mas está também sendo divulgado os nomes nos quatro cantos. Ele comprava jornalistas, editorial de jornal, tudo.
Se você observar antes da Operação Satiagraha, vai verificar várias notícias jornalísticas favoráveis a ele. Algumas até desfavoráveis, mas com o intuito de criar intriga com A e com B, para ele ser beneficiado. Quando estoura a operação, a pauta jornalística tenta desqualificar o trabalho, me desqualificar, desqualificar a Polícia Federal.
Você achava que teria essa confusão toda?
Achava, já era planejado. Tudo estava no script, a tentativa de tirar Dr. Fausto DeSanctis, mas neste caso não conseguiram porque a magistratura brasileira está coberta a este tipo de pressão, mas nós não, e por isso veio a decisão unilateral de me afastar do caso. Não existe uma lei que regule, no caso da Polícia.
Todo mundo estava preocupado, mas eu disse que ia chegar um tempo, que tudo isso ia virar, e através da própria imprensa, da internet, dos blogs, de cartas dos leitores. A pessoa deixar de comprar alguns veículos que se prestam a isso.
E foi exatamente o que aconteceu, começaram a perder leitores. Conheço várias pessoas que me disseram, “eu era assinante da Revista Veja, e não sou mais”. Isso é uma grande vitória, é a maior pressão, do leitor, que deixa de comprar porque estão mentindo para ele.
Mas tem alguns jornalistas favoráveis a você.
Claro, vários, você tem alguns jornalistas, mas o próprio capítulo de mídia, que eu tive coragem de apresentar o papel deles, em um capítulo, criaram um debate interno deles. Teve órgão que criou uma rede interna, para um criticar o trabalho do outro.
Onde Daniel Dantas começou a crescer? Onde ele aparece?
Na década de 90. Ele é um caso curioso, que atravessa Governos. Começou com Fernando Henrique, nas privatizações, e passou para o Governo Lula, colocando seu dedo no mensalão. Investiguei isso, peguei a linha do tempo dele. Alguns doleiros do mensalão tinham relação com ele. E dependendo do próximo presidente, ele vai atravessar o terceiro Governo.
Você chegou a ir à CPI, e ali ficou clara uma divisão na Polícia Federal. Como é o clima hoje lá dentro?
O clima é o pior possível. Muita insegurança dos colegas que estão à frente de investigações, porque hoje há um temor de que possa acontecer o que aconteceu comigo. Não tem nenhuma investigação complexa nessa atual gestão. Todas as que estão acontecendo agora foram iniciadas e planejadas na gestão passada, e isso que aconteceu comigo espalhou uma grande insegurança em torno das autoridades policiais. Estão todos inseguros, por exemplo, em pedir uma interceptação telefônica.
Você chegou a sentir em algum momento que sua integridade física estava ameaçada?
Claro, isso antes, durante e depois. Inclusive uma agressão à minha família (se refere ao pedido de busca e apreensão)…então eles continuam. Eles não têm limite, ainda mantém pessoas me vigiando, mas o gasto está sendo enorme.
Você acha que uma hora isso tudo, essa desorganização, vai acabar?
Vou te contar uma história. Eu fui procurado por um empresário, que me pediu confidencialidade, e me disse…Doutor Protógenes, eu represento aqui 20 empresários, do mesmo porte que eu, e vou falar uma coisa, eu cansei de pagar propina à Receita Federal, a políticos, não financio mais campanha política. Eu cansei, e o senhor vai ser a nossa voz. Quis me entregar 10 mil camisetas, distribuíram no Congresso Nacional, dizendo, Proteja-nos Protógenes. Aí eu me pedi pelo amor de Deus não fazer isso.
Muita gente vai te perguntar isso no dia de hoje, mas deixa eu me antecipar. Você vai ser candidato a presidente pelo PSOL?
(Risos) Não, não sou candidato a nada, a não ser que apareça uma vaga de candidato a carcereiro de Daniel Dantas, em uma penitenciaria em que o banqueiro-bandido vá cumprir pena, aí eu sou candidato. Mas, evidentemente, com o sentimento de dever de cumprir como funcionário público federal.
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