O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), decidiu neste sábado (28.nov.2009) que vai permanecer no cargo e se defender. Acusado de patrocinar um “mensalão do DEM” para pagar regularmente com propinas seus aliados (detalhes nos posts abaixo), ele analisou 3 hipóteses possíveis com seus assessores –ficar no cargo, pedir uma licença ou renunciar.
Arruda decidiu-se pela permanência na função depois de considerar o seguinte:
1) se renunciar ou pedir licença, correria risco real de ter sua prisão decretada. Estaria acabado politicamente ainda de maneira mais rápida;
2) muitos políticos estão implicados nas apurações da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, inclusive o vice-governador, Paulo Octávio, e cerca de uma dezena de deputados distritais. Como é a Câmara Legislativa do DF (equivalente às Assembléias Legislativa nos Estados) que vai decidir sobre um afastamento ou impeachment, haveria uma certa margem para manobrar o cenário político por algum tempo;
3) a linha de defesa será a de tentar desqualificar o ex-secretário de Relações Institucionais de Brasília, Durval Barbosa, que gravou uma conversa com Arruda em 21.out.2009 (transcrição aqui). A defesa do governador de Brasília argumentará que Durval tentou induzir o governador a mencionar pessoas no momento de dividir os R$ 400 mil que estavam à mesa na hora da conversa. Por exemplo, no diálogo a seguir, Durval começa a mencionar nomes de pessoas para as quais valores seriam supostamente entregues: “... Só veio pro Valente. Deu 60 pro Valente, 60 pro Gibrail mais o Fábio Simão [chefe de gabinete de Arruda], que são donos da área financeira, né? E não pode... e não tem jeito. Aí, fico...sobrou 78”. Na sua resposta, Arruda muda de assunto e não confirma nem nega esses valores que teriam ido para os bolsos das pessoas citadas. A defesa vai se apegar a essa filigrana para dizer que houve um jogo de indução. É um argumento, por óbvio, muito frágil. Mas os advogados de Arruda acham que podem ganhar tempo. Vão também dizer que o governador se sentia ameaçado por Durval Barbosa e o mantinha no governo com medo de represálias por conta de negócios passados.
O consultor jurídico do governo do Distrito Federal, Eduardo Roriz, um procurador de carreira há 22 anos, diz não ver "motivos para a retirada do governador". Para Eduardo Roriz (nenhum parentesco dom Joaquim Roriz, só uma coincidência de nomes), "trata-se de uma apuração a ser feita no âmbito administrativo e todas as providências serão tomadas e publicadas no Diário Oficial de 3a feira". A publicação será só na 3a feira porque 2a feira é dia do evangélico, um feriado local em Brasília. "Vamos colaborar com as apurações. O importante é isso", afirma Eduardo Roriz.
Por mais surreal e absurda que possa parecer a defesa de Arruda, essa é a linha adotada: ficar no governo e resistir. Já quanto ao futuro político-eleitoral do governador poucos têm dúvida. É unânime a opinião de que o único governador do Brasil filiado ao Democratas chegou a um ponto final. No ano que vem, Arruda não deve ser candidato a nada, mesmo que consiga ficar no cargo até lá. Seu único objetivo será tentar barrar a volta de Joaquim Roriz (hoje no PSC), um ex-governador e grande desafeto que tentará voltar a governar Brasília. Para impedir a volta Roriz, o grupo de Arruda considera montar uma aliança entre o PT e o PMDB no Distrito Federal.
Essa posição de Arruda explica, em parte, a posição da direção do PT (post abaixo) de não pedir imediatamente o impeachment de Arruda. Os petistas acham sempre bom quando um "demo" sangra em público por algum tempo, mas são pragmáticos. Consideram melhor ainda ter esse político em desgraça dando apoio nos bastidores na operação de bombardear o principal adversário do PT em Brasília, Joaquim Roriz.
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