Polícia desmente Faepa: não há
indícios de culpa do MST
O delegado do Interior, Miguel Cunha, afirmou ao blog que não existe qualquer relatório da Polícia Civil sobre a destruição da fazenda Maria Bonita, em Eldorado dos Carajás, e que também não há indícios da participação do MST no episódio.
Miguel Cunha se encontra em Marabá e o blog conversou com ele por telefone, devido a uma nota da Assessoria de Comunicação da Faepa, na qual se afirma a existência de um “relatório preliminar” da Polícia Civil, que teria responsabilizado o MST por esses fatos.
“Não há relatório nenhum. O que existe é uma perícia do Renato Chaves, que esteve na fazenda e constatou os danos. Mas, isso não confirma a autoria. A perícia apenas comprova a materialidade do delito, ou seja, que o fato ocorreu. Agora, se o dano foi causado por A, B ou C só as investigações dirão”, afirmou Miguel Cunha.
Ele lembrou que mesmo as fotografias da destruição da fazenda ainda terão de ser periciadas e que ainda terão de ser colhidos muitos depoimentos, até que se chegue à verdade dos fatos. “As investigações é que vão dizer o que aconteceu” – reforçou – “É precipitado falar em A, B ou C”.
O inquérito policial está sendo realizado pelas delegacias de Conflitos Agrários, sediadas em Marabá e Redenção.
Mas, como Miguel Cunha responde pela polícia do interior, qualquer relatório sobre o caso teria de passar pelas suas mãos.
Há pouco, o blog também falou com o delegado adjunto de Polícia Civil, José Salles, e ele também disse desconhecer tal relatório. “”Não recebi esse documento. Não tomei conhecimento, não vi”, afiançou.
Miguel Cunha e o delegado geral de Polícia Civil, Raimundo Benassuly, estão em Marabá, junto com o comandante geral da Polícia Militar. O Governo também mandou para a área cerca de 200 soldados da PM.
Miguel Cunha informou que só como resultado dessa viagem é que será elaborado um relatório para o secretário de Segurança Pública, Geraldo Araújo.
Mas, esclareceu: nem nesse documento serão feitas acusações a quem quer que seja. “Só com a conclusão do inquérito é que serão apontados os responsáveis por isso, que podem ser do MST ou outro tipo de gente. Não se pode descartar nada e não dá para acusar ninguém sem provas”, disse.
O delegado do Interior esclareceu, ainda, que não existe qualquer pedido de prisão preventiva relacionado ao caso, contrariando boatos que corriam na tarde de hoje.
De acordo com a boataria, a Polícia já teria solicitado a prisão de uma liderança do MST, Charles Trocate, por envolvimento no caso.
Já o delegado adjunto de Polícia Civil, José Salles, diz que “não há como negar o envolvimento do MST” na destruição da fazenda.
Segundo Salles, integrantes do MST teriam concedido uma entrevista em que deixaram claro que foi alguém ligado a eles “que agiu sem controle”.
Mas admitiu, a uma pergunta do blog, que entre os danos, ou mesmo os indícios de um crime e a comprovação da autoria há uma longa investigação pelo caminho. No entanto, também observou: “Mas, os espíritos do além não fizeram aquilo”.
O blog tenta saber em que entrevista e para que veículo de comunicação o MST teria admitido essa “perda de controle”, que hoje era repetida por vários integrantes do governo.
Até porque o que havia de concreto, até agora, era a negativa do MST acerca de qualquer envolvimento no caso (leia o post anterior).
Nos bastidores
A polícia não diz, mas, o que está deixando o governo com o pé atrás em relação às fotografias de destruição da fazenda Maria Bonita é um vergonhoso episódio, ocorrido em abril deste ano, quando o MST foi acusado de manter jornalistas em cárcere privado e de usá-los como “escudos humanos”.
No caso dos “escudos humanos”, descobriu-se, pelo próprio depoimento de um dos jornalistas envolvidos, que tudo não passara de uma armação, possivelmente do Grupo Santa Bárbara, dono da fazenda Maria Bonita.
O grupo Santa Bárbara pertence ao ex-banqueiro Daniel Dantas, denunciado à Justiça por envolvimento em vários crimes pesados, entre eles, a lavagem de dinheiro.
A Maria Bonita também teria sido “grilada”, isso é, adquirida ilegalmente da família Mutran, que detinha o título de aforamento da área.
O documento dava aos Mutran o direito de explorar os castanhais existentes no terreno, mas, não o direito de vendê-lo, por se tratar de terra pública (leia o post abaixo).
Gente bem situada no governo desconfia do caso, também, por envolver ações aparentemente articuladas, que exigem um bom volume de dinheiro, e até por detalhes aparentemente insignificantes, mas, que deixam qualquer um embatucado.
“Como é que ninguém filmou nada no momento da destruição da fazenda? Será que não havia nem sequer um celular para captar as imagens? Por que é que só há fotografias dos fatos depois de terem ocorrido?”, pergunta um assessor do governo, lembrando que, na história dos “escudos humanos”, a fazenda mobilizou cinegrafistas e fotógrafos, para implicar o MST.
Além disso, ele chama a atenção para o fato de os invasores terem agido tão livremente. “A fazenda estava ocupada e não tinha um segurança lá? É muito estranho”, observa.
Não bastasse isso, fontes policiais garantem que todo final de semana funcionários do grupo Santa Bárbara acionam a delegacia de conflitos agrários de Marabá, sob a alegação de que estão em perigo. “Mas, quando o pessoal chega lá, não há nada”.
Por isso, o que se desconfia, também, é que o grupo está tentando forçar o governo a manter a polícia na fazenda, para usá-la como segurança da propriedade.
“Mas, para fazermos isso”, diz-me um policial, “teríamos de retirar todos os policiais da cidade e colocá-los só para cuidar da fazenda, que é enorme. Só para você ter uma idéia, só da porteira até a sede da fazenda são uns 25 quilômetros. E tirar a polícia da rua para cuidar de uma fazenda, você há de convir, simplesmente não tem cabimento”, observa a fonte.
Há também informações ainda não confirmadas de que as fotos da destruição distribuídas à imprensa talvez nem sejam da Maria Bonita – ou sejam não apenas dela, mas, também, de outra propriedade, a Rio Vermelho.
Outro problema é que hoje surgiram informações (que o blog ainda não conseguiu confirmar) de que, novamente, jornalistas da TV Liberal teriam sido transportados à sede da fazenda Maria Bonita numa aeronave pertencente ao grupo Santa Bárbara, do ex-banqueiro Daniel Dantas.
“Foi aquela aeronave que caiu com funcionários da fazenda dentro”, segreda uma fonte, “Por pouco, esses jornalistas não estavam, também, dentro dela”.
No entanto, o Governo também está com a pulga atrás da orelha em relação ao MST, devido à negativa pouco enfática da entidade em relação a esse caso. “O MST costuma agir rapidamente quando não tem nada a ver com alguma coisa. Mas, agora, eles negam o fato, mas, não dão detalhes”, diz-me um assessor.
Assim, não se afasta a hipótese nem mesmo de que “elementos infiltrados” no MST, a soldo do grupo Santa Bárbara, tenham realizado a destruição da fazenda.
Ou, ainda, que integrantes mais radicais do MST tenham, de fato, responsabilidade no episódio. “O MST está rachado. E tem uma ala que quer mesmo é o confronto com o Governo Federal”, conta a fonte.
E é por tudo isso que a própria governadora Ana Júlia Carepa, na coletiva que concedeu na manhã de hoje à imprensa,tratou de sapatear de catita.
“A Ana Júlia deixou claro que ainda não há indícios de participação do MST no episódio. Mas, também observou que cabe ao MST dizer se há ou não gente infiltrada no movimento, já que o próprio MST teria admitido que perdeu o controle sobre alguns de seus integrantes”, contou-me um jornalista.
Na coletiva, também foi fornecido à imprensa um dado inquietante: o Governo do Estado já ajuizou 80 ações para anular títulos falsos de propriedade de terra no Pará, mas, até o momento, apenas uma dessas ações chegou ao fim.
Somados, esses títulos perfazem cinco milhões de hectares. E um bom exemplo da morosidade processual é o caso de uma fazenda de 500 hectares que abrange até terras indígenas – quer dizer, até um leigo sabe que se trata de algo irregular.
Na coletiva, a governadora também foi bem clara ao afirmar que não vai tolerar abusos. Com terra, sem terra, grileiro ou não grileiro, com dinheiro ou sem dinheiro, disse ela, todos têm de respeitar a Lei.
Daí que a determinação é para que a polícia apure os fatos com rigor e peça a prisão de quem tiver de pedir.
No total, há mais de 100 pedidos de prisão, ainda não decretados, de pessoas envolvidas na disputa pela terra, no estado do Pará.
Há, entre esses, gente do MST, mas, também, grileiros e invasores de terras a soldo de madeireiros.
O governo também não perde de vista uma possível articulação de ações, não só para desgastar o MST, mas, novamente, para acusá-lo de descumprir mandados de reintegração de posse e, novamente, solicitar a intervenção federal no Pará.
“Por sorte”, diz-me um assessor, “tudo isso aconteceu justo quando íamos começar uma reintegração de posse em Barcarena. Do contrário, as manchetes dos jornais trariam, apenas, a invasão da fazenda”.
Faz muito bem o governo em ser cauteloso: essa é uma guerra que envolve muito dinheiro, muito poder e muitas paixões. Tanto assim, que parece cindir até mesmo as forças policiais e a imprensa.
Hoje, por exemplo, o portal das ORM noticiava a coletiva da governadora e dizia que ela havia informado inexistir confirmação de envolvimento do MST.
Mas, na chamada da matéria, o portal das ORM informava justamente o contrário: dizia que a governadora admitira indícios de envolvimento do MST.
Agora à noite, 16 empregados da fazenda Maria Bonita estão sendo ouvidos pela delegacia de conflitos agrários de Marabá.
É preciso, então, esperar para o céu clarear.
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